A dieta cetogênica, também denominada de terapia cetogênica é um tratamento médico cujo objetivo é promover a melhora da qualidade de vida por meio da redução da frequência, intensidade e/ou duração das crises epilépticas.

Ela se caracteriza pelo teor elevado de gorduras, reduzido de carboidratos e moderado de proteínas. Seu objetivo é simular os efeitos metabólicos do jejum prolongado no cérebro, ou seja, o organismo passará a utilizar as gorduras (corpos cetônicos) como fonte energética em detrimento dos carboidratos (glicose).

A medida em que o cérebro de uma pessoa com epilepsia farmacorresistente se adapta com a alta perfusão de corpos cetônicos e baixa perfusão de glicose, ele passará a “trabalhar” em um ambiente mais equilibrado propiciando a redução da atividade elétrica neuronal e, consequentemente, favorecendo a redução das crises epilépticas.

É importante destacarmos que a redução da excitabilidade neuronal é apenas um dos mecanismos envolvidos na redução das crises epilépticas por meio das terapias cetogênicas.

Quem pode se beneficiar da dieta cetogênica?

A persistência das crises epilépticas após o uso de pelo menos dois fármacos anticrise devidamente indicados pelo neurologista conforme o tipo de epilepsia (focal ou generalizada) e quando utilizados corretamente pelo paciente em associação ou não com outros (ex.: carbamazepina, valproato de sódio, lamotrigina, topiramato, etc.), recebe a denominação de epilepsia farmacorresistente, também conhecida por epilepsia de difícil controle medicamentoso.

A cada 100 pessoas diagnosticadas com epilepsia no mundo, 30 apresentam epilepsia farmacorresistente (30%). Após este diagnóstico, é importante avaliar se o paciente tem indicação cirúrgica.

É imprescindível que as pessoas não elegíveis à cirurgia sejam orientadas quanto a possibilidade de associar as terapias cetogênicas ao tratamento medicamentoso vigente, independentemente da idade do paciente ou idade de início das crises.

Contraindicação

Pessoas que tenham deficiência na metabolização das gorduras têm contraindicação absoluta à terapia cetogênica, como é o caso de deficiência da beta-oxidação, deficiência de carnitina, deficiência de piruvato carboxilase etc.

Tais condições são diagnosticadas por meio de exames laboratoriais específicos solicitados previamente ao início da terapia cetogênica, principalmente em pessoas com epilepsia sem etiologia definida. 

Alimentos permitidos na dieta cetogênica

As terapias cetogênicas são indicadas às pessoas que se alimentam tanto via oral, quanto enteral ou parenteral.

Os grupos de alimentos permitidos abrangem: frutas, legumes, verduras, carnes, queijos, ovos e oleaginosas (amêndoas, macadâmia, nozes, etc.).

Cereais (arroz, trigo, aveia, etc.), tubérculos (batata, mandioca, etc.) e leguminosas (feijão, grão-de-bico, lentilha, etc.) serão consumidos em menor proporção ou até mesmo restringidos da dieta a depender da fração cetogênica.

Pessoas que se alimentam via enteral podem utilizar fórmula industrial cetogênica cuja posologia é definida pelo nutricionista de acordo com as necessidades nutricionais do paciente. 

Quais os tipos de dieta cetogênica existentes?

As terapias cetogênicas abrangem quatro principais variações dietéticas cujo objetivo é tratar pessoas com epilepsia farmacorresistente. São elas:

1) Dieta cetogênica clássica: originalmente desenvolvida em 1923 por Dr. Russel Wilder na Mayo Clinic (EUA). Possui quatro frações principais 1:1, 2:1, 3:1 e 4:1 que representam a proporção da gordura em relação a somatória de carboidrato e proteína, desta forma, a fração 4:1 pode fornecer até 90% das calorias por meio das gorduras, 6% pelas proteínas e somente 4% pelos carboidratos. O uso da balança é indispensável já que os alimentos devem ser pesados de acordo com o cardápio calculado pelo nutricionista;

2) Dieta com adição de TCM (triglicerídeo de cadeia média): proposta em 1971, a dieta com adição de triglicerídeo de cadeia média é menos restritiva do que a cetogênica clássica e não exige pesagem dos alimentos. O TCM é um tipo de gordura que tem capacidade de aumentar a produção de corpos cetônicos no fígado e pode ser orientada em alguns casos;

3) Dieta de Atkins modificada: proposta em 2003 com base na tradicional dieta de Atkins elaborada em 1972 pelo Dr. Robert Atkins. Ambas dietas (tradicional e modificada) restringem os carboidratos, porém o que as difere é que a modificada encoraja o consumo de gorduras e não de proteínas. Proporcionalmente a dieta de Atkins modificada equivale à fração 1:1 da dieta cetogênica clássica, porém não requer o uso de balança para porcionamento dos alimentos. Sua meta diária de carboidrato pode variar de 10g a 30g a depender da faixa etária do paciente;

4) Dieta de baixo índice glicêmico: proposta em 2005 pela nutricionista Heidi Pfeifer e a Dra. Elizabeth Thiele de Massachusetts (EUA). Esta dieta prioriza carboidratos com índice glicêmico abaixo de 50 (ex.: pepino, abobrinha, maçã, pêra etc.) contendo proporções balanceadas de proteínas e gorduras. Diferentemente das demais terapias cetogênicas, esta não visa a elevação de corpos cetônicos.

Profissionais responsáveis pela dieta cetogênica

É fundamental que a terapia cetogênica seja acompanhada pelo neurologista/neuropediatra e pelo nutricionista especializado na área.

Lembrando que a cetogênica é um tratamento e, portanto, deve ter indicação médica. O nutricionista poderá prescrever a terapia cetogênica mediante encaminhamento médico.

O tratamento poderá ser melhor conduzido na presença de equipe multidisciplinar conforme necessidade clínica de cada paciente, como é o caso do terapeuta ocupacional, psicólogo, fonoaudiólogo etc.

Fonte: ABE

 

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